sobre a Copa do Mundo no Brasil
na E.E. Ver.
Elísio de Oliveira Neves
(07/06/14)
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Às portas do início dos jogos da Copa
do Mundo, assistimos a uma crescente indignação na população brasileira, que se
sente negligenciada em suas necessidades básicas e de direito. Por outro lado,
também observamos que as manifestações que vêm ocorrendo, como suposta expressão
desta indignação, não têm sido suficientes para provocar mudanças mais sólidas.
Talvez seja oportuno nos questionar sobre essa indignação que sentimos e sobre
o que pode ser feito para gerar uma transformação social adequada.
Luc Ferry (filósofo francês contemporâneo) explica que a indignação é um
sentimento moral detestável e que deve ser rapidamente superado. Pois, quando
nos sentimos indignados é sempre por causa dos outros. Nunca ficamos indignados
ou escandalizados por nós mesmos. Isto não passa de um julgamento moralista a
respeito das corrupções políticas, das mentiras daqueles que prometeram e não
cumpriram, enfim, das injustiças que os outros realizam. Mas, o que nós não
entendemos ainda é que quando fazemos este julgamento e afirmamos “estou
indignado!”, tomamos como parâmetro nosso próprio modo de ser. Ou seja, nos
tomamos como exemplo e modelo no juízo que fazemos das atitudes condenáveis dos
outros.
A indignação precisa ser superada, ou seja, precisamos abandonar nossa
contradição. Pois, somos contraditórios quando acusamos o governo de suas
corrupções e negligências, mas também fazemos as mesmas coisas para tirar
proveito de situações que nos favoreçam, ainda que gerem impactos menores do
que aqueles.
Podemos protestar e demonstrar nosso
descontentamento com as injustiças. Mas, junto a isso, também temos que ser
justos! Como queremos que os que governam sejam honestos com o povo se também
negligenciamos nossa participação política? Um exemplo disso está bem perto de
nós, dentro de nossas salas de aula.
Quando os alunos são convocados a
escolherem seus representantes de classe, vemos que muitos são escolhidos como
se fosse uma brincadeira. Alguns desses representantes são irresponsáveis, não
se comprometem com a aprendizagem e não representam os interesses de sua sala;
mas foram escolhidos por ela. Se vivemos isso aqui dentro, como queremos que
seja diferente lá fora?
Também não adianta dizer-se indignado
por más condições de trabalho, por descaso com a Educação em geral, se alguns
professores ou gestores condicionam a qualidade de seu trabalho a salários
melhores, invertendo a ordem das coisas. Que cobrem melhorias, que lutem por
elas, mas porque fazem sua parte da melhor forma que conseguem e não o
contrário.
Queremos que nossos direitos sejam
respeitados, porém, nem sempre cumprimos nossos deveres. E isto só demonstra
incoerência e falta de consciência de que os deveres são necessários justamente
para que os direitos sejam vividos.
Por fim, não adianta sair nas ruas
para protestar durante algumas horas e não tornar este protesto uma atitude
diária e desde as pequenas coisas. Precisamos muito mais de inteligência, de
coragem e de comprometimento do que de indignação, se quisermos que nossa
sociedade melhore. E para ela melhorar devemos começar pelo que está em nossa
volta. Devemos começar por nós mesmos!
Obrigado!
Weslay
A. Maia
Professor
de Filosofia e orientador do
Grupo
de Estudos de Filosofia Política
e
Teoria do Conhecimento
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